domingo, 10 de junho de 2012

USO ANIMAIS EM PESQUISA

 USO ANIMAIS EM PESQUISA/air fagundes 

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Caso acharem de fundamento este ARTIGO, por gentileza, encaminhem a outros colegas e pessoas do relacionamento. É também passível de críticas.
Aguardo retorno,
AIR FAGUNDES
 
 
 
USAR OU NÃO USAR ANIMAIS EM PESQUISAS CIENTÍFICAS?
                          *Air Fagundes dos Santos – CRMV-RS 305
MOVIMENTO ORGANIZADO POR ENTIDADES PROTETORAS CONTRA O USO  DE  ANIMAIS NOS  CURSOS  DE  PÓS-GRADUAÇÃO  DE MEDICINA VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA   - UFSM
Embora tenha sido um modesto pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria, trabalhei usando animais em meus experimentos. Sempre convencido que alguns dos meus trabalhos, por mais simples que fossem, iriam contribuir, em maior ou menor escala, com o conhecimento humano. Isso deixava leve sensação de conforto por perceber que pesquisar é um ato de cidadania, mesmo tendo plena consciência da dívida impagável que ficava em relação aos animais usados nas pesquisas. Por outro lado, a certeza que se trabalha em ciência em prol da qualidade da vida humana/animal e do meio ambiente.
Todavia, no íntimo, sempre permaneciam algumas perguntas. A primeira era como determinar o número estritamente indispensável de animais para o experimento e a preocupação em evitar sofrimento na hora da eutanásia, quando necessária. Nem poderia ser diferente sendo médico-veterinário, mas, às vezes, nem tudo saia como planejado.  São os acidentes inevitáveis que não desejamos. 
Ainda, entre as perguntas. O que se ganha como pesquisador? E quais os riscos para o exercício dessa nobre atividade? A primeira, o que ganha o pesquisador, em parte, já respondi. Podendo ser traduzido como um trabalho que visa o bem coletivo. Porém, quem reconhece o real valor do conhecimento neste país chamado Brasil? Especialmente da pesquisa científica (?).  Fala-se nas rodas palacianas, sim, em importar pesquisadores. E os nossos grandes pesquisadores brasileiros serão deportados ou simplesmente escorraçados? Ou mal tratados por insistirem em trabalhar para o bem coletivo? Olhando simplesmente por essa ótica, dá para suspeitar, mesmo teimando em não aceitar, que esse movimento contrário à pesquisa científica na UFSM, faça parte de um pacote de “achar que é melhor para o Brasil importar conhecimento”. Aliás, a estratégia usada na histórica Santa Maria da Boca do Monte não diverge muito, guardando as devidas proporções, da Santa Inquisição – A caça às bruxas (Séc. IV)!. Movimento que se tornou lucrativo e difamatório. Acobertado pelo Êxodo-Cap. XXII-Versículo XVIII  “Não permitirás que viva uma feiticeira”. Bastando, neste caso, apenas trocar o substantivo por outro. Deixo por conta de cada um fazer a sua analogia. Muito triste! 
A terceira indagação e quanto aos lucros financeiros aferidos pelo pesquisador, como profissional da ciência.   Nada mais justo ser muito bem remunerado, ponderando o princípio do custo/benefício e considerando que o pesquisador lança mão de todo seu talento e “saberes”. Ninguém discute! Contudo, nada disto acontece e se acontece são casos raros. Convém lembrar quanto ganha um profissional da ciência com anos e anos de estudos e em permanente atualização para poder elaborar e orientar projetos.
Frente a esse quadro, será que aquele brasileiro que se diz consciente e cidadão quer que seu país cresça dependendo da ciência que vem de fora? Tocada, muitas vezes, goela abaixo! Certamente, não!        
De tudo que foi dito, ainda resta uma observação sobre o frágil sistema de segurança oferecido ao pesquisador. Começando com uma pergunta. Os pesquisadores brasileiros são agraciados pelo direito à periculosidade?  Hoje, felizmente, já se fala um pouco mais em biossegurança. Na minha época de “pesquisador”, muitos colegas - malucos sonhadores - como eu, adquiriam doenças durante o manuseio com material infectante. Aconteceu comigo. Será que alguém estava preocupado com a segurança do pesquisador? Será que as pessoas leigas e não leigas em assuntos da Medicina Veterinária que assinam abaixo-assinados e fazem passeadas em defesa dos animais e contra a pesquisa sabem disso?
Continuo, mesmo estando aposentado há 15 anos, cada vez mais convencido que o único reconhecimento ao trabalho do pesquisador pode ser traduzido pelo aproveitamento pela sociedade (consumidor) do conhecimento científico e tecnológico gerado por ele nos centros de pesquisa. Motivo de estar, com toda a tranquilidade redigindo este artigo para mostrar como é injusto querer cassar o direito dos profissionais da Medicina Veterinária como pesquisadores.                                                   
Apenas para exemplificar um pouquinho mais de como enxergo a importância da pesquisa científica e para complementar o que disse antes, vou destacar alguns pontos daquilo que fiz e ajudei a fazer nesse campo laboral.  Entre os trabalhos (tese), testamos o uso dos benzimidazóis no combate às larvas de tênias em hospedeiros intermediários. Isso após 20 anos de intensa pesquisa básica e muito dinheiro tirado do próprio bolso. Uma vida! Trabalho inédito no mundo e ainda hoje, além de estar publicado nos Estados Unidos, tem salvado a vida de muitas pessoas acometidas de zoonoses como: hidatidose e cisticercose. A neurocisticercose uma parasitose muito grave para o ser humano. Outro trabalho, para ressaltar a importância da pesquisa em animais por médico-veterinário, foi testar o fármaco praziquantel no Brasil. Realizado no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva - Centro de Ciências Rurais, da UFSM. O produto praziquantel precisava ser liberado para uso no Brasil. Coube a nós, falando como médico-veterinário, provar a sua ação no combate às tênias. Hoje o praziquantel, como os benzimidazóis,  são usados no mundo inteiro em benefício da saúde pública no tratamento de pessoas portadoras de larvas (sobretudo de  cisto hidático e cisticercus). VALEU TRABALHAR COM A COLABORAÇÃO DOS ANIMAIS???
Ao citar esses dois exemplos, como poderia ter citado mais de uma centena de pesquisas do Dr. Pippi que circulam pelo mundo, serve para ressaltar a parcela de contribuição dada por milhares de pesquisadores médicos-veterinários ao conhecimento científico. Contribuições a favor da medicina humana e da medicina animal, visando melhorar a qualidade de vida. Ajudas fortemente embasadas na formação proporcionada pelo ensino da Medicina Veterinária. Forte formação técnica, reforçada pelo comprometimento com o bem-estar animal desde o momento que se presta o Juramento de exercer a profissão com dignidade, ou seja, sob os preceitos da ética conforme preconiza o “Código de Ética do Médico-Veterinário”, nosso livro de cabeceira.  Se não bastasse, complementado pelo Código de Proteção e Defesa do Consumidor, afinal, o ato de pesquisar gera produtos e serviços.  Duvido, também, que grande parte das pessoas que assinaram aquele manifesto mostrado pela televisão (em 14/05) e levado à direção da Universidade, tenha consciência da importante desses dois instrumentos que moldam a conduta médico-veterinária. 
Recuso-me a aceitar que alguém, ou algum colega de profissão, desconheça o teor, a relevância e seriedade das pesquisas realizadas pelo reconhecido “Centro de Pesquisas Veterinárias da UFSM”. Pesquisas, muitas, orientadas pelo competente professor N. L. Pippi, que dispensa apresentação. Geração de ciências e tecnologias de ponta que despertam, certamente, inveja e admiração em muitos grandes centros de pesquisas do Brasil, e por que não dizer do mundo. Especialmente com células tronco, com uma tecnologia desenvolvida em Santa Maria com muito esforço e luta. E, acima de tudo, com certeza, com escassos recursos financeiros. Fruto apenas do esforço e do sacrifício de horas e horas de estudos e trabalhos de jovens e calejados pesquisadores, como é o caso do professor Pippi.
Portanto, bem antes de ser providenciado um abaixo-assinado ou uma passeata para tirar o uso de animais na pesquisa, gestos que lembram as décadas passadas (anos 70 e 80),  fosse enfocada a dignidade dos pesquisadores dessa grande Universidade, e não simplesmente jogar à opinião pública trabalhos de tantos esforços.                                                                                    
Por falar em opinião pública. Será que a mídia brasileira dá o mesmo espaço ao pesquisador (cientista) que dá ao leigo sobre assuntos relevantes?  Até uma criança de cinco anos sabe que não.  Na visão de alguns veículos de comunicação, falar em pesquisa, não representa “vender notícia”.  
Mudando um pouco, mesmo sabendo que é uma questão cultural brasileira de bater antes de escutar a versão questionada. Por que não foi dado o direito ao Dr. Pippi (ou aos seus orientados) para discorrer sobre seus experimentos? Respeitando à dignidade profissional apregoado pelo nosso Código de Ética. Olhando ainda por outro ângulo, por que não fazer esses movimentos pedindo mais recursos para projetos científicos na universidade pública e, porque não, na privada? Ah, isso certamente não daria ibope!    
Em relação a esses profissionais, médicos-veterinários, que estão sendo expostos à opinião pública, vale sempre lembrar que são os únicos habilitados a exercitar a clínica animal em todas as suas modalidades (Lei 5.517/68), assim como faz o médico frente ao ser humano. Então, qual o pecado que cometem esses pesquisadores? Será que é apenas por estarem aplicando na plenitude a capacidade intelectual dada pela natureza, para o bem de todos?     
Devo ressalta, veja bem o sentido do que vou dizer para que amanhã não seja distorcido por aqueles que fazem uso somente da emoção, que o pesquisador não é privado de emoções. Portanto, sentir emoção não é privilegio de poucos. 
Devo ainda sublinhar, que a pesquisa científica na Medicina Veterinária, tanto básica como aplicada, significa o aproveitamento de conhecimentos especializados, dentro de um universo de possibilidades a serem exploradas. Portanto, Inexiste o chamado pesquisador “faz tudo”. Como tal, muitas vezes, não fica muito clara na cabeça das pessoas que não são da área do conhecimento (“leigos”) o verdadeiro alcance daquilo que busca o pesquisador especializado no mundo universal do desconhecido. No senso comum, tantas vezes, o mote é “Ele não deveria ter procedido assim”.
Vejo também com apreensão que entidades protetoras de animais, com exceções, voltam-se contra o uso de animais em pesquisas que visam o bem-estar da humanidade, enfocam sobretudo supostos maus tratos aos animais. Esquecem que a autoridade máxima da Europa da maior entidade protetora de animais do mundo, andou caçando elefantes na África. Não é um contra senso? Será que matar pelo simples prazer de matar pode? Usar animais em benefício de todos, não!
                                              ______________________________________ 
                                                           *Professor Titular Aposentado da UFSM

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